SABRINA VALLE / RIO - O Estado de S.Paulo
A
Petrobrás tem respondido aos questionamentos em relação à compra supostamente
sobrevalorizada da refinaria de Pasadena, no Texas, mas, até o momento, não
convenceu nas respostas, segundo o procurador do Ministério Público junto ao
Tribunal de Contas da União (TCU) Marinus Marsico. O procurador está à frente
das apurações sobre a compra da refinaria, uma transação, revelada em
reportagem do 'Estado' de julho do ano passado, que pode representar um
prejuízo de US$ 1 bilhão à companhia.
"Tudo
indica que deva sair um processo disso, mas ainda é prematuro para garantir. O
alerta nos foi dado por matéria do Estado, que nos motivou a pedir explicação à
Petrobrás em ofício. Agora, estamos analisando a ampla documentação, boa parte
em língua estrangeira", disse Marsico.
Caso o
procurador se convença de fato de que há indícios de irregularidade na compra,
será aberta representação. O documento será encaminhado a outros órgãos,
incluindo o Ministério Público Federal (MPF), que pode então abrir processo
criminal para apurar ilícito de ordem penal.
"A
Petrobrás tem respondido aos pontos que pedimos em ofício, mas ainda não
convenceu. Há indícios de que houve grave prejuízo aos cofres públicos",
disse Marsico.
Ao todo,
a Petrobrás pagou US$ 1,18 bilhão, em duas etapas, para comprar a refinaria
que, há sete anos antes, custara US$ 42,5 milhões à sua agora ex-sócia - quase
28 vezes menos. A refinaria texana, com capacidade para 100 mil barris/dia,
está entre os ativos que foram postos à venda pela Petrobrás dentro do plano de
desinvestimento que busca reduzir a presença no exterior de forma a angariar
recursos a serem aplicados no pré-sal brasileiro.
A
Petrobrás não revela quanto recebeu de oferta pela companhia, alegando que
atrapalharia negociações. Mas seu valor de mercado é cerca de dez vezes o que
foi pago.
A
Petrobrás fez os pagamentos à Trading Belga Astra, que comprou100% da refinaria
em janeiro de 2005 por US$ 42,5 milhões. Em setembro de 2006, a Petrobrás
adquiriu 50% da refinaria por US$360 milhões, um negócio que o controlador belga
descreveu em seu balanço como "um sucesso financeiro acima de qualquer
expectativa razoável".
O contato
da petroleira na trading era Alberto Feilhaber, executivo com duas décadas de
Petrobrás que se tornara executivo da Astra nos EUA. Disputas entre os sócios
sobre supostas divergências em relação ao processo de ampliação da refinaria
geraram uma briga judicial que só foi encerrada no ano passado: a Petrobrás
pagou mais US$ 820 milhões para encerrar a disputa e adquirir os 50% restantes
da refinaria.
Os investimentos
programados na época para dobrar a capacidade para 200 mil barris por dia e
adequar a unidade ao processamento de óleo pesado brasileiro (do campo de
Marlim), tornando-a mais sofisticada, nunca foram feitos.
Segundo a
Petrobrás, a aquisição de metade da empresa que detinha a refinaria
"estava alinhada ao Planejamento Estratégico da Petrobrás, à época, no que
se referia ao incremento da capacidade de refino de petróleo no exterior".
A companhia diz que tinha por objetivo processar excedentes de petróleos
pesados brasileiros e diversificar riscos. "É importante esclarecer que a
aquisição ocorreu antes da confirmação do potencial dos reservatórios
descobertos na camada pré-sal, quando o crescimento da produção de petróleo da
Petrobrás se dava basicamente por descobertas de petróleos cada vez mais
pesados", afirmou, em nota.
Portanto,
disse a companhia, era estrategicamente interessante para a companhia na época
adquirir, no mercado americano, refinarias para óleos leves, mais baratas, e
adaptá-las para processar óleos pesados, como a Petrobrás havia feito no
Brasil.
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