O
ex-secretário de Administração de Itaberaba, que fica a 264
quilômetros de Salvador, denunciou a prefeitura do município ao
Ministério Público por desviar cerca de R$1 milhão, por mês, com frades
em licitações e desvio de dinheiro que seria aplicado na saúde. A
família do ex-secretário Alberto Magno chegou a ser ameaçada por
bandidos armados dentro da própria casa. O caso está sendo investigado
pelo Ministério Público Federal, juntamente com a Polícia Federal, e foi
divulgado em reportagem neste domingo (22) pelo Fantástico, da TV
Globo.
Alberto
Magno trabalhou como secretário durante seis anos nos dois mandatos do
prefeito João Almeida Mascarenhas Filho (PP), porém, ele rompeu com o
gestor depois de descobrir as irregularidades. Alberto acusa o prefeito
de furtar bens comprados para a prefeitura em 2013. “Foram 153 itens e
materiais, incluindo desde diversos aparelhos de ar-condicionado
splinter, geladeiras verticais, bebedouros", conta.
Segundo
o ex-secretário, foi uma ligação feita para o fornecedor que o alertou.
"O fornecedor me disse simplesmente o seguinte: 'não devo nada ao
senhor prefeito, isso tudo foi entregue, foi entregue na fazenda dele'.
Aí veio cair a ficha", lembra.
Pela
denúncia, a prefeitura teria fraudado licitações e usado uma
cooperativa para desviar dinheiro da Saúde. “Aqui nós temos diversas
cópias de cheques, da cooperativa, de pessoas fantasmas, pessoas que não
prestavam nenhum tipo de serviço à prefeitura”, afirma. A equipe de
reportagem do Fantástico conseguiu localizar uma ex-funcionária da
cooperativa Coope, que não quis se identificar, mas revelou que durante
três anos de serviço, percebeu os "desvios de dinheiro".
Ainda
de acordo com a funcionária da Coope, o dinheiro desviado - cerca de
R$200 mil por mês - era dividido entre a vice-prefeita Maria José
Novais, que também já foi secretária de Saúde, e Marigilda Mascarenhas,
irmã e secretária de Governo do prefeito. “Eu mesma era quem ia
entregar", conta a ex-funcionária. Segundo ela, o dinheiro de Marigilda
era retirado por um motorista na cooperativa.
O
prefeito negou qualquer tipo de desvio em sua gestão, entrou em defesa
da Coope e disse que todo o processo, que está sob investigação, não
passa de "uma manobra política". "Ela [Coope] trabalhava de uma maneira
transparente, recolhendo todos os seus encargos tributários e pagando os
seus funcionários sempre em dia”, garantiu.
As
investigações estão sendo feitas pelo Ministério Público Federal e o
Estadual, além da Polícia Federal. Atualmente, o Departamento Nacional
de Auditoria do Sistema Único de Saúde (Denasus), analisa os contratos
da prefeitura com a cooperativa, já percebeu irregularidades e pede que a
prefeitura devolva R$ 373 mil aos cofres da Saúde. Já o MPF, solicitou a
reposição de R$ 229 mil. Ainda segundo a reportagem, outras
investigações do Ministério Público apontam fraudes em licitações do
transporte escolar.
Família com medo
No
dia 15 de janeiro, bandidos armados invadiram a casa do ex-secretário e
roubaram os documentos que comprovam as denúncias. Tudo foi flagrado
pela câmera de segurança da casa de Alberto Magno.
Nas
imagens, os suspeitos chegam em dois carros, aguardam a saída do
ex-secretário e uma dupla toca a campainha. Ao abrir a porta, a esposa
de Magno, Cleidinéia, é coagida pelos bandidos armados - um deles de
capacete -, que a levam pra dentro de casa. Lá, os suspeitos fazem
Cleidinéia, a filha de 9 anos do casal e a mãe do ex-secretário de
refém. Roubam os documentos que estavam guardados em um armário no
quarto e fogem em seguida.
As
imagens foram entregues à Polícia Civil do município e, apesar dos
homens terem sido identificados, o delegado responsável pelo caso, Jean
Silva Souza, afirmou que não pode prender os suspeitos por assalto a mão
armada. "É necessário ter um conhecimento prévio sobre essas pessoas, o
que não cabe à autoridade policial. A gente tem que ter uma isenção
necessária antes de fazer um pré-julgamento", disse.
Sem
amparo da polícia, a família vive com medo. “Minha filha dorme com a
gente na cama de casal, e meu filho dorme no colchão no chão, porque só
se acham protegidos junto com os pais”, conta Alberto Magno.
(verdinho)
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