Durante
o ano de 2012, sete juízes suspeitos de irregularidades como venda de sentenças
e favorecimento indevido foram aposentados compulsoriamente após processos
abertos no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), segundo balanço obtido
pelo G1.
A aposentadoria compulsória, quando o juiz perde o cargo e continua
recebendo uma parte de seu salário, é a punição máxima permitida para
magistrados na esfera administrativa. Caso haja processo judicial, o juiz pode
ser exonerado e perder o cargo ou ter a aposentadoria cassada.
O ideal seria que fosse zero [o número de magistrados envolvidos com
irregularidades], mas para isso teríamos que ter anjos no lugar de juízes. Juiz
é ser humano, e o ser humano sempre vai errar"
Nelson Calandra, presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros
(AMB)
Outros dois juízes foram punidos em 2012 pelo plenário do CNJ com
remoção compulsória (quando o juiz é transferido para outro local) e dois com
censura.
Além desses 11 punidos, outros seis magistrados foram afastados
preventivamente de suas funções em 2012 em razão da abertura de investigações
após suspeitas de irregularidades – dois do Rio Grande do Norte, dois de
Tocantins, um do Piauí e um do Ceará.
Atualmente, há 26 processos administrativos (PADs) abertos na
Corregedoria do CNJ para investigar juízes, num universo de pouco mais de 20
mil juízes no país – segundo dados da publicação "Justiça em
Números". Ao todo, entraram no conselho 7.797 processos, relacionados a
pedidos de providências, de sindicâncias, representações, entre outros.
Para o presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB),
Nelson Calandra, o número de magistrados aposentados compulsoriamente é baixo
considerando a quantidade de juízes no Brasil.
"[A quantidade ] é infinitamente pequena considerando o tamanho do
Brasil, com mais de 20 milhões de casos julgados durante o ano. Não há número
expressivo de magistrados com conduta irregular, até porque a magistratura não
é concebida nem engendrada para dar errado. O concurso é dificílimo, se exige
de um juiz mais do que ficha limpa, coração para magistratura. É muito raro
termos caso de corrupção envolvendo magistrados", disse Calandra.
Para ele, a pena de aposentadoria compulsória não é "branda".
"Para nós, juízes, a expulsão da carreira por aposentadoria compulsória é
uma etapa de outro processo, o judicial por perda do cargo e cassação da
aposentadoria. Eu acho que isso é extremamente degradante, pena
violentíssima."
Segundo o presidente da AMB, é difícil atingir o "ideal" de
"zero" magistrados envolvidos com irregularidades. "O ideal
seria que fosse zero, mas para isso teríamos que ter anjos no lugar de juízes.
Juiz é ser humano, e o ser humano sempre vai errar."
Nelson Calandra destacou que o CNJ tem feito um bom papel, além da
atuação das corregedorias, e tem mostrado que "não há caixa preta" no
Judiciário.
Casos concretos
Entre os casos de aposentadoria compulsória está o de uma desembargadora do Tribunal de Justiça de Tocantins, suspeita de integrar um esquema de venda de sentenças judiciais e de se aproveitar de pagamentos de precatórios (dívidas públicas resultantes de processos judiciais).
Entre os casos de aposentadoria compulsória está o de uma desembargadora do Tribunal de Justiça de Tocantins, suspeita de integrar um esquema de venda de sentenças judiciais e de se aproveitar de pagamentos de precatórios (dívidas públicas resultantes de processos judiciais).
Outro desembargador, Edgard Antônio Lippmann Júnior, do Tribunal
Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), também foi acusado de integrar um
esquema de venda de sentenças em 2003. Segundo o CNJ, ele vendeu uma liminar
que possibilitou a reabertura de uma casa de bingo no Paraná em troca de
vantagens financeiras.
Em nota divulgada à época, o desembargador argumentou que as acusações foram baseadas em delações premiadas e boatos e que a movimentação financeira considerada irregular ocorreu devido a negociações imobiliárias.
Em nota divulgada à época, o desembargador argumentou que as acusações foram baseadas em delações premiadas e boatos e que a movimentação financeira considerada irregular ocorreu devido a negociações imobiliárias.
No Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, o desembargador Roberto Wider
foi aposentado após ser acusado de favorecer um lobista. Entre as irregularidades
estavam a nomeação para cartórios, sem concurso, de advogados que atuavam em
escritório do lobista, além de ter oferecido suposta blindagem a candidatos em
eleições. Wider negou todas as acusações.
No Amazonas, uma juíza de Coari foi transferida de sua vara após ser acusada de favorecer um ex-prefeito da cidade.
No Amazonas, uma juíza de Coari foi transferida de sua vara após ser acusada de favorecer um ex-prefeito da cidade.
Segundo o processo, a magistrada Ana Paula Medeiros Braga foi flagrada
em escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal e autorizadas pela Justiça
na Operação Vorax, em 2008, pedindo favores como emprego para o namorado,
passagens aéreas e até um camarote para o carnaval do Rio de Janeiro, em troca
de decisões judiciais favoráveis.
Na defesa apresentada, a magistrada negou que tenha pedido privilégios e
afirmou que as gravações indicavam apenas que ela mantinha uma relação social
com as autoridades locais.
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