Crueldade. A palavra que tem por conotação ‘o prazer de ver o outro sofrer’ tem sido a mais utilizada no município de Varzedo, distante 200 km de Salvador. A motivação para a revolta dos moradores da pequena cidade tem como personagens principais os pais do prefeito reeleito, Radaman Barreto.
Ranulfo e Zélia Barreto ganharam na justiça um processo em que reivindicavam a reintegração de posse de uma área em que o seu sobrinho, Marivalson Barreto, morava com a mulher e dois filhos. “A decisão da juíza foi divulgada na última sexta-feira à noite. No sábado pela manhã já tinha retro escavadeiras, tratores e policiais militares em frente a casa para retirar a família e demolir tudo”, disse Mariedna Barreto, irmã de Marivalson. “Eles não conseguiram demolir no sábado porque os moradores pararam em frente da casa e impediram que eles derrubassem tudo”, afirma emocionada.
Mas, na última terça-feira (17) a união dos vizinhos não foi o bastante e todo o imóvel veio ao chão. “Eles chegaram aqui com dois caminhões de lixo da prefeitura de Varzedo e jogaram todos os móveis e roupas da família dentro. As máquinas derrubaram dezenas de anos de história, derrubaram a casa que o meu falecido pai, irmão de Ranulfo, construiu”, conta emocionada.
Com a demolição do imóvel, Marivalson, a sua mulher, Maria Lorença Barreto, e seus dois filhos: Misael Francisco, 2 anos, e Beatriz Estefani Barreto, de seis meses, foram morar em baixo de uma árvore em frente a antiga casa. “Nunca passei em passar nos meus 50 anos de vida por tamanha humilhação. Pessoas que são sangue do meu sangue, meus primos e tios jogaram a minha família com duas crianças na rua e tudo isso por interesse político”, desabafa Marivalson.
“Você não faz ideia o que é ver a roupa de seus filhos, seus imóveis, tudo o que você construiu ao longo de uma vida ser jogada em cima de um caminhão de lixo e levado sei lá para onde. Para concluir a crueldade eles derrubaram a casa que o meu pai construiu com suas próprias mãos. Eu não sei o que fazer”, se desespera o lavrador que sustentava a família produzindo farinha no quintal de casa.
Segundo o relato de Marivalson, seus tios informaram para a justiça que eles teriam emprestado o terreno há nove anos, fato negado pro ele. “Pode perguntar aos nossos vizinhos, estão todos aqui para comprovar a verdadeira situação. Moramos aqui por mais de 40 anos e agora que a área ficou valorizada eles tiraram de mim. Pelo amor de Deus, a justiça tem que analisar todas as provas, Ranulfo nunca foi dono disso aqui, mandem averiguar”, disse.
De acordo com Mariedna, os pais do prefeito começaram a ter interesse na área após a vitória de Radaman em 2008. “Isso aqui era um nada antes. Depois que o meu primo (Radaman) venceu, eles criaram olho na terra que hoje fica nos fundos do novo estádio de Varzedo. Após a construção, aqui ficou muito valorizado e eles entrarm na justiça, conseguiram documentos, não sei como, e transformaram a vida do meu irmão em um verdadeiro inferno. Tudo por dinheiro”.
Edson Luis, cunhado de Marivalson, garante que todos os envolvidos na ação agiram de má fé. “Em 2006, a família entrou com um processo por usucapião por ter mais de 40 anos morando no local, porém, não houve nenhuma audiência sobre o caso, meu cunhado é analfabeto e foi induzido por um advogado anos mais tarde a assinar uma notificação de desistência do pedido, ele assinou o que não conhecia”, afirmou.
A decisão favorável aos pais do prefeito foi proferida pela Juíza de Direito da 3ª Vara Cível e Comercial da Comarca de Santo Antônio de Jesus, Indira Fábia dos Santos Meireles. Segundo Edson, a juíza não tinha conhecimento sobre o caso, já que as audiências dos anos de 2008 e 2009 foram acompanhadas pelo Juiz Givandro Cardoso, “não culpamos a juíza, pois ela não tem conhecimento profundo da situação, muitos dos documentos que estão no processo foram arranjados, ela precisava ver de perto a real situação”, afirma.
Com a decisão da justiça a família permanece no mesmo local, mas já recebeu o últimato. "Eles vieram nesta manhã avisar que temos que sair daqui porque irão derrubar a ávores. Uma assistente social disse que vai alugar uma casa em meu nome. Eu não tenho como pagar, eu quero apenas que a jutiça seja feita e sei que assim será feito", concluiu Marivalson. A família do prefeito não foi encontrada pela reportagem do Bocão News para comentar as acusações.
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