Está oficialmente confirmado. Pequenos produtores dos municípios de
Ilhéus Una e Buerarema, no sul do estado, que tiveram nas últimas semanas suas
propriedades rurais ocupadas por supostos índios Tupinambá vão ocupar o
Aeroporto Jorge Amado, em Ilhéus, na próxima sexta-feira (10), impedindo
embarque e desembarque de passageiros no terminal. A medida tem por objetivo
chamar a atenção das autoridades para um grave conflito de terras entre as
localidades de Japu e Serra das Trempes onde, no momento, 20 fazendas estão
ocupadas. “As vítimas estão nos procurando e a nossa entidade está fazendo o
papel que cabe ao estado”, revela Luiz Uaquim, presidente da Associação dos
Pequenos Agricultores de Ilhéus, Una e Buerarema, para justificar a medida
extrema. “O governo tem que vir sentar à mesa e fazer o seu papel. Isso já não
nos cabe mais fazer. Por isso vamos ocupar o aeroporto. Pra ver se eles nos
enxergam”, assegura.
Uaquim acusa o Conselho Missionário Indigenista (Cimi), entidade ligada
à Igreja Católica, e a própria Fundação Nacional do Índio (Funai) de montarem
um esquema de ocupação de áreas muito próximas a outras. O governo define como
omisso. “O Cimi, inclusive, articula armas e mantimentos para incentivar
as ocupações”, acusa. “Por isso queremos buscar a presença das autoridades
baianas. A situação está ficando insustentável”, completa. Nesta segunda-feira
(06), por exemplo, a Força Nacional e a Polícia Federal estão mobilizadas em
duas tentativas de reintegração de posse. “O que estão fazendo com os
nossos produtores não é ocupação de terras. É ocupação de residências, pessoas
armadas e mascaradas, que ameaçam, dão tiros, amedrontam pessoas idosas e que
não têm outro lugar pra ir”, afirma Luiz Uaquim.
Ele apresenta um depoimento em forma de “Termo de Declarações” emitido
pela Polícia Federal onde José Domingos Sena Santos, identificado por Uaquim
como um ex- membro do grupo que articula as ocupações acusa o movimento de ser
criminoso. Na PF, José Domingos, informa que as ocupações têm a participação da
FUNAI, que estaria cadastrando “falsos índios” e que o cacique Babau, que já
esteve preso pela própria PF, utiliza contas bancárias de terceiros para
depositar o dinheiro oriundo da venda da produção de áreas invadidas. José
Domingos teria rompido com Babau, após o líder ter ocupado uma fazenda que
estava sob sua responsabilidade. “Foi um desentendimento interno, briga de
poder entre eles e o ex-membro nos procurou para denunciar tudo”, explica
Uaquim.
Os números apresentados pela Associação explicam por si só o porquê da
escolha das áreas hoje ocupadas. Juntas, as suas produções representam um
faturamento de 36 milhões de reais por ano e uma renda per capita de 800
reais. Ela está inserida na área reivindicada pela Funai para índios Tupinambá.
São cerca de 30 mil hectares reivindicados na Justiça Federal.
Luiz Uaquim revelou ainda, com exclusividade ao Jornal Bahia
Online, que além da ocupação do Aeroporto, um novo movimento já está sendo
articulado para que as famílias retiradas de suas propriedades ocupem as
instalações do Ministério Público Federal. “Desta forma vamos dizer às
autoridades que estas pessoas humildes não têm sequer para onde ir”, justifica.
Para a ocupação da próxima sexta (10), cerca de mil pequenos agricultores estão
mobilizados. “Poderia ser bem mais. Mas muitos estão com medo de sair da
propriedade e quando voltarem não serem mais donos delas”, concluiu.
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