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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Réus negam ter participado da morte de Celso Daniel


Em interrogatório durante julgamento, três réus acusados pela morte do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT) negaram qualquer participação no crime e afirmaram que foram torturados pela polícia logo que foram presos. Eles ainda acusaram o ex-deputado petista e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh de ter colaborado com os policiais durante a tortura. Procurado, Greenhalg ainda não se pronunciou sobre as alegações do réus. 

Daniel foi encontrado morto com oito tiros numa estrada de terra em Juquitiba (SP), após dois dias de sequestro em janeiro de 2002. Ele se preparava para assumir a coordenação da campanha do ex-presidente Lula. O Ministério Público de São Paulo voltará a defender que o assassinato está vinculado a um esquema de desvios para financiar campanhas do partido.
Primeiro a falar, o réu Ivan Rodrigues da Silva, conhecido como Monstro, disse que estava no Paraná em janeiro de 2002, quando aconteceu o crime.
"Eu não matei ninguém", disse Ivan. Ele ainda afirmou que foi ameaçado por Greenhalgh para que confessasse.
Ele afirmou que não conhece Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, principal acusado pela morte.
Já José Edison da Silva disse que estava na Bahia quando a morte aconteceu. Ele também acusa a policia de tortura.
Além de negar o crime, outro réu Rodolfo Rodrigo dos Santos afirmou que foi torturado com choques elétricos. De acordo com ele, Greenhalgh o agrediu com um tapa.
"Ele me xingou de tudo o que é nome. Os policiais aceitavam tudo o que ele dizia. Ele queria porque queria porque que eu confessasse o crime", disse Rodolfo.
Presente ao julgamento, o irmão de Celso Daniel, Bruno Daniel, disse que os argumentos dos réus são frágeis. "Eles estão no direito deles", disse. Ele voltou a afirmar que a motivação do crime foi política.
Depois dos interrogatórios, haverá a fase de debates.
Como as 13 testemunhas de defesa foram dispensadas é possível que o júri, que estava previsto para dois dias, termine ainda hoje.
Já os advogados de dois réus abandonaram o júri. Os réus Itamar Messias Silva dos Santos e Elcyd Oliveira Brito, o John, tiveram o julgamento remarcado para o dia 16 de agosto. Os advogados alegaram que teriam menos tempo de defesa do que a acusação.
Como são cinco réus, cada defensor teria direito a 30 minutos de sustentação oral, enquanto o Ministério Público terá duas horas e meia.
Os advogados já haviam pedido o desmembramento do julgamento na Justiça, que foi negado pelo juiz de Itapecerica da Serra (Grande SP), Antonio Augusto Galvão de França Hristov. Assim, as defesas decidiram abandonar o caso.
SOMBRA
Já o principal acusado da morte do prefeito, Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, responde em liberdade e será julgado separadamente devido a recursos judiciais.
Além de conseguir postergar seu julgamento, Sombra ainda tenta derrubar no Supremo o poder de investigação do Ministério Público em casos criminais. Se conseguir, anulará boa parte das provas.
O julgamento de Gomes da Silva, que nega participação no caso, é o mais aguardado pela Promotoria, mas ainda não tem data marcada pela Justiça --ele conseguiu um habeas corpus no Supremo.
Ele chegou a ficar preso por oito meses e, segundo pessoas próximas, leva uma vida discreta no ABC paulista.
Já no julgamento de hoje, o Ministério Público de São Paulo voltará a defender que o assassinato está vinculado a um esquema de desvios para financiar campanhas do PT.
A Promotoria repetirá a tese que já levou à condenação de Marcos Roberto Bispo dos Santos, o único que foi julgado até agora.
Para o Ministério Público, o grupo foi contratado por Sombra para matar o prefeito. O motivo é que Daniel teria descoberto que recursos desviados para o PT foram embolsados pelos envolvidos no esquema.
"A partir do momento que ele descobriu que o dinheiro do esquema estava engordando o bolso dos participantes, não concordou. Ele queria voltar ao esquema inicial de caixa dois do PT", afirmou o promotor Márcio Friggi, escalado para fazer a acusação.
A tese da Promotoria vai na contramão das investigações da Polícia Civil, que concluiu ser um crime comum.
Para a Promotoria, uma vitória no júri hoje terá impacto no julgamento de Sombra.
A Promotoria também cita uma ação de improbidade na qual o PT e o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) são acusados de desviar recursos de Santo André. As testemunhas do caso serão ouvidas em julho.

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