Bando acampava em matagal para fugir após assaltar banco no interior
Por Bruno Wendel e Jorge Gauthier | Fonte Correio da Bahia
Como cangaceiros da modernidade, eles usaram táticas de guerrilha para enfrentar trilhas na mata. Não abrem mão do repelente, água, sucos e biscoitos na mochila. Preparados para sobreviver da Caatinga à Zona da Mata da Bahia, armas de grosso calibre e dinheiro roubado de bancos entram no kit de sobrevivência.
Essas foram as táticas usadas por um grupo de dez assaltantes que roubaram na manhã de segunda-feira R$ 401 mil da agência do Banco do Brasil de Boa Nova, no Sudoeste da Bahia.
Antes e depois do assalto, a quadrilha optou em se refugiar num acampamento montado em um matagal no distrito de Valentim, localizado a cerca de 25 quilômetros do centro da cidade.
Esse mecanismo, segundo o tenente-coronel Jorge Couto, comandante de Policiamento Especializado da PM, é usado pelos assaltantes para dificultar a ação da polícia. “Eles usam essas áreas na zona rural porque é um lugar melhor para a fuga depois do assalto”, destacou.
A tática de acampar em zonas de matagal, que já foi usada só este ano por assaltantes que roubaram agências em Iaçu, Piritiba e Formosa do Rio Preto, falhou em Boa Nova porque a polícia conseguiu prender um dos ladrões do grupo contratado para dar o “baratino” na polícia durante a fuga do bando.
A poucos metros de uma mata onde estavam os homens armados com fuzis e metralhadoras, os PMs abordaram Valter Pereira Carvalho Junior, 23 anos, quando ele caminhava numa estrada de barro e manuseava combustível para atear fogo nos carros usados pelos assaltantes.
Planejamento
Segundo o delegado Jorge Figueiredo, do Grupo Avançado de Repressão a Crimes Contra Instituições Financeiras da Polícia Civil, os policiais desconfiaram do nervosismo e ele entregou o local do refúgio. “A policia chegou ao alojamento improvisado que eles montaram, onde foram descobertos mochilas com alimentos, remédios, repelentes e, em uma das sacolas de viagens, R$ 401 mil do banco”, explica.
Antes de praticar o assalto, os bandidos ficam, em média, dois dias dentro da mata fechada ou em casebres nos povoados das cidades, segundo o delegado. “Eles montam uma estrutura básica de sobrevivência com fogareiro, panela, pão e biscoito”.
Segundo o tenente-coronel da PM Walter Araújo, comandante da Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe/Semiárido), os bandos montam os acampamentos em locais de difícil acesso, mas com cobertura de telefonia. “A comunicação é necessária. O acesso aos locais é feito com cavalos, motos e carros de alta potência para estrada de barro”.
Além de alimentos e repelentes, as quadrilhas costumam levar para o confinamento combustível armazenado em galões para evitar de deixarem o local para abastecer os veículos, normalmente tomados de assalto. “Eles não querem correr o risco, já que os veículos roubados passam a ser procurados pela polícia”.
Em regiões como a Chapada Diamantina, os locais escolhidos para montar acampamento são cavernas, fazendas e casas abandonadas e até árvores frondosas, para dificultar a visibilidade dos policiais em helicópteros.
Ainda de acordo com o comandante da Cipe/Semiárido, como uma organização, cada integrante tem o seu papel na quadrilha. Existem o responsável pelo levantamento de dados, o encarregado de alugar as armas, deroubar os veículos e aqueles que participam da ação do bando.
Armamento
O bando, que fez reféns o gerente e dois PMs de Boa Nova, tinha uma visão privilegiada da região e abandonou o acampamento quando perceberam a movimentação dos policiais.
No acampamento foram recolhidos cinco coletes balísticos, uma pistola calibre 45, uma submetralhadora UZI 9 mm, uma pistola 9 mm, três revólveres calibre 38, uma submetralhadora Taurus 9 mm, 58 munições 9 mm, 15 munições calibre 38 e dois revólveres que tinham sido levados dos policiais militares. Segundo o tenente José Rômulo Souza Lima, da 79ª CIPM, os mantimentos eram suficientes para o bando passar até três dias na mata.
Durante a ação, os ladrões atiraram para cima e até a delegacia da cidade foi fechada.
Carcereiro da delegacia há 13 anos, Adevaldo Mendes Lima revela que os ladrões colocaram pânico na cidade. “Só estava na delegacia eu e a doutora (delegada Jaqueline Santos). Na hora que o povo começou a correr, nós trancamos a delegacia e fugimos para a casa vizinha”. Os ladrões chegaram a atear fogo em um caminhão no acesso da cidade, por volta das 9h de segunda-feira, 30 minutos antes de roubar o banco.
A caçada aos bandidos mobilizou cerca de 60 policiais dos municípios de Jequié, Poções, além das cidades vizinhas de Vitória da Conquista, Manoel Vitorino e Ibicuí. Houve também o patrulhamento do Grupamento Aéreo da Polícia Militar (Graer).
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